O município de Terezinha, localizado no Agreste pernambucano, pode ter um novo pleito eleitoral em decorrência de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) protocolada junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE). A ação trata de acusações graves envolvendo a chapa do atual prefeito Arnóbio Gomes, eleita com uma diferença de apenas 85 votos nas últimas eleições municipais. O caso ganhou repercussão após a circulação de vídeos nas redes sociais que mostrariam um cabo eleitoral oferecendo dinheiro em troca de votos.
De acordo com as denúncias que embasam a AIJE, a prática de compra de votos teria sido flagrante. Em um dos vídeos, que viralizou na internet, um cabo eleitoral ligado diretamente à campanha de Arnóbio Gomes aparece oferecendo a quantia de mil reais para um eleitor, pedindo explicitamente o voto no candidato. Conforme relatado, uma das pessoas abordadas recusou a oferta, enquanto a outra aceitou o pagamento. As imagens, que ganharam grande circulação, alimentaram a suspeita de um esquema organizado e sustentado por forte estrutura de apoio financeiro e político.
A investigação também levanta elementos que indicariam abuso de poder econômico e político. A chapa de Arnóbio teria contado com o apoio direto do então prefeito Mateus Martins, figura influente na cidade e peça-chave na sucessão municipal. Essa aliança, segundo a denúncia, teria servido para alavancar a candidatura com recursos materiais e logísticos acima do que se espera de uma campanha equilibrada, ferindo os princípios da isonomia eleitoral.
A juíza responsável pela zona eleitoral já iniciou a tramitação da AIJE. Testemunhas foram intimadas e ouvidas. Entre os relatos, surgem detalhes sobre a forma como o dinheiro era ofertado aos eleitores e a atuação de cabos eleitorais em comunidades específicas, numa estratégia voltada a garantir votos por meio de vantagem financeira imediata. O conteúdo dos vídeos apresentados foi anexado à ação como prova substancial, apontando indícios de uma rede organizada para influenciar o resultado do pleito por meios ilícitos.
Caso a Justiça Eleitoral confirme as irregularidades, a chapa eleita poderá ser cassada. Nesse cenário, tanto Arnóbio Gomes quanto seu vice ficariam inelegíveis por oito anos, conforme determina a legislação eleitoral brasileira em casos de abuso de poder e corrupção eleitoral. Com a cassação confirmada, uma nova eleição seria convocada no município, e os envolvidos no processo ficariam impedidos de disputar o novo pleito.
A situação tem gerado expectativa entre os moradores de Terezinha, onde o clima político permanece tenso desde a eleição. A diferença mínima de 85 votos entre o primeiro e o segundo colocado reforça o peso que a possível compra de votos teria tido no resultado final. O caso também expõe os desafios da Justiça Eleitoral diante de práticas que, apesar de ilegais, continuam sendo utilizadas em contextos locais, principalmente em cidades pequenas onde relações pessoais e econômicas tendem a ter forte impacto eleitoral.
Especialistas em direito eleitoral observam que a apresentação de provas materiais, como vídeos e depoimentos de testemunhas, fortalece substancialmente a AIJE. A comprovação de compra de votos não exige apenas o flagrante, mas também o vínculo entre o ato ilícito e o candidato beneficiado, além da constatação de que a conduta teve impacto na lisura do processo eleitoral. Nesse caso, o envolvimento de apoiadores diretos da chapa e a visibilidade dos registros audiovisuais tornam o caso especialmente delicado para os investigados.
Enquanto isso, a cidade aguarda a decisão judicial. A tramitação da ação corre em ritmo considerado célere, tendo em vista a gravidade das denúncias e o interesse público envolvido. O Ministério Público Eleitoral acompanha o caso de perto, e há expectativa de que se manifeste formalmente sobre o mérito da ação nas próximas semanas. A eventual realização de uma nova eleição colocaria Terezinha novamente no centro da agenda política estadual, com novos atores podendo surgir na disputa e a atual configuração de forças políticas locais sendo redesenhada.
O desfecho do processo agora está nas mãos da Justiça Eleitoral. A decisão da magistrada poderá não apenas redefinir o comando do Executivo municipal, mas também servir como marco para coibir práticas similares em outras localidades do estado.
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