A matemática antes do tumulto não era totalmente desfavorável ao psolista. A deputada Carla Zambelli (PL-SP), relatora do processo por faltas, indicava rejeição ao pedido e, nos bastidores, a tese de perda do mandato perdia força. Havia espaço político para negociação, até mesmo para que o processo se alongasse, atravessasse o recesso e se desidratasse. Mas Glauber escolheu o confronto — e escolheu ao vivo, diante do plenário, das câmeras e do país.
O ato, descrito por parlamentares como “desespero político” e “autoexpulsão simbólica”, mudou imediatamente o clima. O Centrão, que ainda avaliava votos e calibrava decisões, passou ao modo de disciplinamento, decidido a responder institucionalmente ao gesto. Deputados que evitavam se posicionar publicamente fecharam questão em silêncio. A cassação, que era possibilidade, virou consenso.
Hugo Motta (Republicanos-PB), que presidia a sessão, sustentou postura firme e se viu, paradoxalmente, fortalecido pelo tumulto. E, se a cadeira ocupada era símbolo de autoridade, o gesto acabou devolvendo força justamente àqueles que Glauber pretendia confrontar. Arthur Lira (PP-AL), ainda com o comando informal sobre boa parte da Casa, passou a atuar como avalista dessa reação, alinhando blocos e desmobilizando qualquer sopro de reversão.
A ocupação da Presidência, ato extremo e calculado apenas no campo da indignação, deixou Glauber sozinho — não politicamente, mas matematicamente. Se antes ele era visto como alvo de perseguição, agora suas próprias fileiras o enxergam como protagonista de sua queda. Aliados, que ontem falavam em resistência, hoje falam em desfecho.
No fim, o gesto que pretendia ser denúncia virou sentença. O ato de romper com o protocolo não desmoralizou o sistema, apenas acelerou o julgamento político. Glauber, que sempre construiu sua atuação com intensidade e enfrentamento, encontrou no auge dessa intensidade o ponto preciso da irreversibilidade.
O plenário ainda vai votar. Mas, para os que viram a cena de perto, a cassação deixou de ser hipótese. Tornou-se destino.